Oi amigos,
Após um tempinho longe do blog eu resolvi voltar a escrever. Confesso que nos últimos dias havia momentos em que eu oscilava entre escrever coisas simples, como o cotidiano das crianças, e escrever outros assuntos um pouco mais complexos. Esses dias porém pensei em escrever algo que voltou a ser um tema importante na minha vida e que eu poderia compartilhar aqui no blog, mesmo porque se relaciona com tudo o que tenho vivido nos últimos tempos. Estou falando sobre o sentimento da culpa e sobre o fato de sermos filhos de Deus.
Como Cristão, o sentimento de culpa sempre me despertou atenção e curiosidade, pois foi somente compreendendo o que Cristo fez por nós, somente compreendendo a Graça que nos é dada através do sacrifício dEle é que podemos nos livrar de todo o sentimento de culpa. Porém mesmo compreendendo e aceitando isso de coração, sinto que ainda carrego várias culpas. Uma das principais hoje em dia, que é a que quero compartilhar aqui, tem a ver com a morte da Luciana.
Quem me conhece um pouco sabe que é uma característica minha querer fazer tudo, querer assumir várias responsabilidades e procurar dar conta de tudo. Não vou dizer que chego a ser perfeccionista, mas geralmente me cobro para que tudo dê certo. Sei que isso pode não ser bom. Quando recebemos o diagnóstico do câncer, a minha reação foi ficar parado, calado. A Luciana estava muito abalada e chorava muito, enquanto eu permanecia mudo. Naquela hora eu não chorei e praticamente não falei. Mais tarde...sozinho...no banheiro...eu chorei. Tentava compreender como algo tão terrível tinha acabado de “cair” nas nossas vidas e sentia que a minha responsabilidade ali era dar o máximo de mim para que ela ficasse bem e ficasse livre daquele mal. Era uma briga que começava e eu estava disposto a me entregar de corpo e alma. Eu amava a Luciana o suficiente para sacrificar qualquer coisa pela vida dela. O câncer tem disso...ele te chama para a briga...ele te dá uma esperança de vitória, por mais cruel ou agressivo que ele seja.
Boa parte do que aconteceu em seguida está escrito aqui. Foram 10 meses entre o primeiro sintoma e o falecimento dela. Várias opiniões foram ouvidas e a gente aprendeu a nunca confiar de primeira em toda opinião médica. Por várias vezes eu questionava os diagnósticos e tentava sugerir caminhos alternativos. Existia muita confusão a respeito do que era melhor fazer com a Luciana e com a Helena, e assim eu pedia a Deus que tranquilizasse o meu coração para escolher sempre o melhor caminho. Eu lia livros, assinava periódicos sobre câncer e me cadastrei em sites de centros de oncologia pelo mundo afora. Depois de colocar a Luciana para dormir eu ia para a Internet e passava horas pesquisando sobre novas drogas ou drogas alternativas. Mas chegou um momento onde nada parecia surtir efeito.
A Luciana faleceu em um domingo. Gostaria de citar dois acontecimentos ocorridos naquela semana. O primeiro foi que os médicos frequentemente me chamavam para me preparar para o pior. Lembro mesmo de fugir deles, de não estar no quarto quando eles chegavam, pois eu não queria ouvir o mesmo discurso. Quantas vezes o velho ritual da enfermeira me chamar “discretamente” para conversar com eles perto do posto de enfermagem se repetiu. No início discutíamos imagens, drogas e tratamentos. No final não havia mais nada a ser discutido. Nós nos entreolhávamos, concordávamos em algumas coisas e esperávamos os próximos acontecimento. Até que um dos médicos da equipe, um rapaz um pouco mais novo do que eu, me chamou em um canto para conversar. Ele gostava muito da Luciana e de mim. Lembro dele estar com lágrimas nos olhos (eu também chorava muito) e em determinado momento ele falou assim: “Woltony, ninguém é invencível”. Uma frase meio óbvia né? Eu lembro de concordar com ele no momento, mas no meu íntimo eu refutava com todas as minhas forças isso. Eu havia feito isso durante os últimos dez meses! O outro fato, e esse é o mais importante, aconteceu enquanto eu estava na capela do hospital e resolvi abrir a bíblia para ler. Foram três trechos de livros diferentes, porém todos eles falavam sobre morte. Na hora me veio uma voz interior que dizia que havia chegada a hora da Luciana. Era algo até bem claro para mim aquela “voz”. Mas mais uma vez eu refutei. Pensei que não queria ouvir aquela voz. No domingo da morte dela, eu não me revoltei. Não briguei com Deus. Lembro só de lembrar da expressão de Cristo: “Está consumado”. Liguei para o nosso oncologista daqui de Brasília e falei que queria fazer uma pergunta só: “Existia algo mais que eu podia fazer?”. “Não”, foi a resposta dele, com a voz embargada. “Vocês fizeram tudo. Vocês foram aonde quase ninguém vai, aonde quase nenhuma família vai”.
Para mim eu havia aceitado a morte da Luciana, por mais dolorido que fosse. Nas conversas com a minha psicóloga isso nunca foi um problema. Mas com o tempo, com a terapia e com algumas coisas que Deus vem mostrando para mim, comecei a perceber que tem duas coisas que ainda não fiz, duas coisas que ainda não processei. Uma é que por alguma razão eu me sinto culpado pela morte dela, eu permaneço com uma sensação que poderia ter feito mais e não fiz. A outra é que eu ainda não “entreguei” a Luciana para Deus. É muito estranho pois a minha parte racional aceita bem isso. O que mais eu poderia fazer? Com quem mais a Luciana poderia estar? Mas eu sinto que não são coisas 100% resolvidas no meu coração.
Ontem conversava sobre isso no meu grupo de estudo bíblico. Falava sobre algumas consequências que isso pode ter na minha vida (que inclusive já aconteceram), sobre a dificuldade que talvez eu tenha de pensar em um novo compromisso, sendo que ainda carrego algumas culpas, sendo que ainda tenho medo de não corresponder às expectativas que colocam em mim. Medo de não vir a ser um bom companheiro...medo de não fazer a pessoa ao meu lado feliz são pensamentos constantes. Enquanto eu falava isso um amigo meu comentou: “Woltony, nós somos filhos de Deus. Através de Cristo, Deus nos tornou filhos dEle. Mas nós não somos Deus!”. Sei que se fosse possível eu conversar com a Luciana, ela falaria para eu não me sentir culpado. Ela vivia falando para eu “relaxar” mais, para eu não me cobrar tanto.
A minha psicóloga ontem sugeriu que eu fizesse algumas atividades que talvez me ajudassem. Engraçado como a minha primeira reação foi refutar. Mas no final eu aceitei, com a condição que fosse aos poucos. Algumas coisas que ela sugeriu, mesmo simples, só de pensar já me faziam sentir aquele perto no peito.
Amigos, como eu acho que acabei escrevendo muito, vou parando por aqui. Prometo depois contar mais como as coisas estão indo e trazer mais noticias das crianças.
Um grande beijo e fiquem com Deus. Que Ele esteja sempre abençoando todos vocês!
Woltony, Luciana (eternamente), Pedro e Helena
Boa tarde Woltony!!
ResponderExcluirSaudades de ouvir você falar do que acontece no meu coração.Quando você fala parece que você fala de mim, muito engraçado isso.
Este trecho mostra exatamente o que sinto: "Uma é que por alguma razão eu me sinto culpado pela morte dela, eu permaneço com uma sensação que poderia ter feito mais e não fiz. A outra é que eu ainda não “entreguei” a Luciana para Deus."
Quando paro para pensar em tudo o que fiz, sempre acho que não fiz o suficiente, poderia ter feito mais, que poderia ter deixado emprego e corrido com ela para São Paulo, Rio sei lá, mesmo sem ter condições, já m senti culpada pela morte d aminha irmã, como se tivesse feito algo errado e ela que tivesse pago ou que não orei e pedir o suficiente, sei lá, vai entender nossa cabeça...
Você está indo muito bem, o luto é muito difícil, é muito triste, uma hora estamos bem, pensamos de maneira bem prática e racional, mas em outros dias parece que tudo não passa de um sonho e a pessoa vai voltar.....
Tudo vai se organizar dentro de você, dê tempo ao tempo...não existe um botãozinho em nós que liga e desliga os sentimentos na hora em que a gente quer, as coisas vão acontecendo naturalmente...e uma hora dessas você vai se ver envolto por novos sentimentos que vão te arrebatar e você vai viver novamente uma nova história de amor.
Toda sorte de bençãos do Senhor para tua vida!!!Saúde e paz!!
Bjs.
Débora.
Olá Woltony! Sei q nOssa cabeça e complexa! E q realmente e fundamental vc trabalhar e ate perceber isso! Mas, eu acho q a ultima coisa q vc poderia sentir e culpa. Vcs (vc, sua família e da Lu) fizeram tdo q podia ser feito. A Lu diversas vezes escreveu o quanto tinha um esposo especial. Vcs sempre foram um casal apaixonado e de cOmpanheirismo. Na breve vida dela aq, ela viveu um amor de verdade. Em relação ao câncer, vc nao tinha o q fazer. Tudo depende da vontade de Deus. Vc cumpriu o seu juramento q presenciei quando vcs casaram "na saude e na doença" . Fique em paz em relação a isso ! Abraço
ResponderExcluirQue Deus abençoe sua familia e sua Vida!!!
ResponderExcluirSou amga da Juliana que encontrou vc e seus filhos um domingo no Beach Park aqui no Ceara... ela me contou um pouco da sua historia desde então, venho acompanhando pelo blog...
Desejo de coração que o nosso Senhor DEUS amado, conforte seu coração e te faça cada vez mais forte e que ele possa retirar da tua vida essa culpa que nao pode existir...
Um grande abraço!!
Márcia Patricia Cruz- Fortaleza-CE.
''Entrega tua vida nas mão de DEUS e vai....''
Peço a Deus que te mostre o caminho certo a ser seguido. Você fez tudo sim, mas ela era um anjo e Deus a quis perto dele, anjos nem sempre ficam muito tempo na terra e quando se vão deixam a saudade... .
ResponderExcluirBjs
Agnes
A culpa faz parte do processo de luto Woltony e vc vai superar. Agora siga os conselhos de Luciana. Relaxa mais.
ResponderExcluirFIca com DEus.
Grande Abraço.
Lidiane Dantas - Fortaleza -CE
Woltony, saudades...
ResponderExcluirVocê foi muito guerreiro, comentei isso várias vezes nos posts da Luciana, vocês lutaram juntos. Quantas pessoas são abandonadas na dor, mas a Luciana foi privilegiada com o seu apoio em todos os momentos. Mesmo com a doença, ela tinha um semblante alegre, apaixonada, você contribuía para isso. Ela partiu na certeza da sua fidelidade na alegria e na tristeza, então não se culpe,pois você fez a sua parte direitinho.
Quando você citou: "Eu amava a Luciana o suficiente para sacrificar qualquer coisa pela vida dela." me fez lembrar da declaração que ela te fez no vídeo de 2 anos do Pedro.
Fique bem!
Oi Woltony,Tudo tem seu tempo, você não precisa se sentir culpado, tudo foi feito além daquilo que vcs podiam fazer,tentaram tudo,este blog é real,não é fantasia,ele é vivo e trouxe correntes de orações de todo canto do mundo,para cura da Luciana, mas aprouve ao Senhor colhe-la,no tempo dele,e deixou a semente maravilhosa que vc tem hoje,que é a Helena, quantas pessoas choraram com vcs, sorriram,mesmo sem conhecer-los,eu mesma te conheci no velório,descansa em paz, ela já está com o Senhor Jesus, mas se vc sente que se vc orar,e dizer que entrega ela ao Pai,vai te fazer bem, faça-o,e relaxa... Nada melhor do que um dia a traz do outro,e uma noitinha para bater as pestanas...tudo passa amigo..abçs.
ResponderExcluirOi woltony,acho que já escrevi isso aqui!QUando minha bebÊ faleceu,há 13meses atrás,tbém me senti um pouco culpada.Eu e marido,pois ela teve uma doença genética.Mas.minha dor era enorme demais p eu ainda me sentir asssim.Com o passar dos dias,vi que isso pode acontecer com qquer um.Fiz tudo o que podia e acredito que vc tbém tenha feito.Infelizmente,tem coisas que não podemos.Quanto a isso,estou tranquila hoje.como estou tentando outra gravidez,procurei geneticistas e especialistas para o estudo de nosso sangue e ficamos sabendo que o que aconteceu foi uma raridade.Bom,descanse,procure viver da melhor forma por vc e pelos seus 2filhos.Sei mais do que ningúem que o luto é difícil demais e cada um tem o seu tempo.OS sentimentos se misturam,sasudades,mágoas,emfim,mas acredito que de uma forma ou de outra,tudo passa e ainda seremos muito felizes.Abraços
ResponderExcluirOi Wolt,
ResponderExcluirEsse sentimento de culpa que nos ronda nos aprissiona... E, o processo de libertação não é simples nem rápido.
Se eu puder de dar algum conselho, é o de pedir a ajuda do Pai. Ele sonda os nossos corações e nos fala de uma forma muito própria. E, nos ajuda sempre que permitimos o seu agir em nossas vidas.
Saudades de você.
Bjs, Sheila
Oi! Estava com saudades de "ler você".
ResponderExcluirAliás, seus textos tem sido cada dia mais bonitos, tem me colocado pra pensar cada vez mais.
As mudanças assustam, e como, mas geralmente depois da dar da transformação vem a alegria da vida nova. É o que eu tb espero.
Abraço,
Vivian Antunes.
Wolt,
ResponderExcluirQuanto tempo! Tudo bem??
Que lindo relato você fez hoje...
Andei pensando muito na Lu esses dias, em tudo o que aconteceu. É tudo muito louco. E pra você, tenho certeza de que muito mais.
Conversando com a minha irmã essa semana, a gente acabou tocando no nome da Lu e eu acabei lembrando de muita coisa e chorei.
E, por um acaso do destino (ou não), fui assistir ao documentário "Rock Brasília" poucos dias depois. Uma frase que a mãe do Renato Russo falou me marcou especialmente. Falando sobre ele, sobre a forma dela lidar com a morte do filho, ela disse: "Eu sempre penso que ele está no Rio, que ele não morreu e isso me conforta".
Cheguei à conclusão de que eu faço o mesmo em relação à Lu: penso sempre que ela está aí em Brasília e isso me conforta.
Sei que pra você não é tão fácil assim, mas tenha certeza de que muitas pessoas compartilham um pouco do seu sentimento e sentem falta dessa pessoa tão doce e especial que nós tivemos o privilégio de conhecer, viu??
Força sempre, Wolt!!! Por mais que seja duro, muitas vezes complicado, acho que você vem trilhando o caminho certo. Não desanime!
Beijo grande,
Bibis
Olá Woltony,
ResponderExcluirnos conhecemos ano passado na Maple Bear... eu fui professora assitente do Pedro, hoje sou professora regente a tarde na turminha de Toddler. Desde que entrei na escola e soube da sua linda história de amor, sempre acompanho os seus posts aqui no blog. Gosto muito do que escreve... é tão sincero, tão verdadeiro, capaz de tocar qualquer ser humano que tenha um coração. =)
Faz certo tempo que não entro aqui no blog e hoje acordei com uma música maravilhosa na cabeça e só me vinha seu nome à mente. Gostaria de compartilhá-la contigo. Como Cristã sei bem que essas coisas sem explicação, geralmente são recados de Deus... Que assim seja, segue o link do video, vale a pena ver a tradução da letra também.
Que Deus abençoe a todos nós e nos conforte todos os dias.
Abraços,
Mirna.
http://www.youtube.com/watch?v=4mmgV6mPvb0
"Blessings" by Laura Story
Sabe que eu tenho esse problema de me sentir culpada por tudo? Sou psicóloga, mas nunca aprendi a desligar o botão da culpa. Como é bom assumir isso... mas uma coisa tenho aprendido sendo a mãe da Tetê, a culpa nos tira as forças, mas não adianta querer uma mudança de atitude rapidamente pq isso tbm é auto cobrança.
ResponderExcluirSei que as sensações e esses sentimentos de importência passam, às vezes demora mais, às vezes menos. Mas quando vc estiver preparado para os novos caminhos que Deus escolher, vc dará os seus passos para frente.
Eu acredito muito nisso. Quando adotei minha filha e percebi que teríamos que nos dedicar com muitos tratamentos, eu achei que não poderia, que não daria conta de mais aquilo em minha vida. Hj, percebo o quanto faço. Sim, estou cansada. Mas estou muito feliz com tudo o que Deus está constuindo em minha vida e em minha família. Continue dividindo, pq essas coisas de blog parece nos tornar tão próximos, né?
Oi amigo! Estava com saudades desses textos tão profundos e de tamanha entrega. Te conheci quando vc era um menino mas já era assim intenso, sempre dando seu melhor e já cuidava da Lú e dava seu melhor para ela. Você fez tudo que podia pela Lú durante o tratamento, mas as vezes a nossa vontade é diferenre dos planos de Deus. Quando penso na Lú hoje imagino ela perto de Jesus pedindo para Ele cuidar de todos que ela ama e que deixou aqui e torcendo também para vc ficar mais tranquilo e seguir a vida sem medo e sem culpa. Bjos em todos e fique com Deus!
ResponderExcluirWoltony, fazia bastante tempo que não lia o blog, e confesso que desde que a Luciana começou a apresentar os primeiros sintomas, novos pensamentos surgiram à minha cabeça... sobre doenças, câncer, enfim, sobre a morte. E o que se passa é uma luta entre o 'medo' da morte e a paz que Cristo nos dá ao nos lembrar que quando estamos nEle e morremos, na verdade vamos para um descanso e ao encontro dEle. Desde então essa luta sempre esteve presente na minha cabeça e, hoje, ao voltar a ler teu blog, vejo que o que tu escreves contribui para que o lado 'morte humana' da luta enfraqueça cada vez mais, e o lado Vida em Cristo se fortaleça muito. Que Deus te abençõe, a ti e às crianças, e te fortaleça para continuar na luta que é a vida diária. Um grande abraço, Vitor e Gi (Floripa).
ResponderExcluirBom dia! Encontrei seu blog por acaso. Me emocionei muito com a história de vocês. Me admirei com sua força e com o amor a sua família. Acredito que não deva se culpar, porque sua missão como pai e mãe, que exerce hoje, supera qualquer coisa. Além disso nada é culpa sua e você, pelo jeito, fez o seu máximo. Desejo que Deus continue lhe dando essa força. E obrigada por compartilhar sua história de maneira tão singular e nos ajudar a sermos seres humanos melhores. Um Abraço, Michelli Azanha.
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