segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

O último post


Oi amigos,


Esse é o último post desse blog. Nunca pensei que seria tão difícil fazer isso. Nas outras vezes que comentei sobre o encerramento desse site, não imaginava como seria esse momento, mas com certeza não poderia imaginar o frio na barriga que estou agora, a sensação de querer colocar um mar de idéias e emoções aqui e mesmo assim ter que escolher as palavras mais significativas.


Ao longo dos mais de 2 anos de blog, foram ao todo 235 postagens, 527 seguidores cadastrados, 280645 pageviews, 5687 comentários publicados e houveram dias com mais de 1000 acessos distintos, para citar algumas das estatísticas. Porém existem algumas estatísticas que nunca poderão ser computadas, como a quantidade de amor que a Luciana e a nossa família receberam durante esse tempo, a quantidade de pessoas que torceram pelo nascimento da Helena e pela cura da Luciana, a quantidade de leitores que falaram que se sentiram tocados pelo exemplo de luta da Luciana durante esse tempo, as orações e pedidos de vida em favor da Luciana e da Helena, entre tantas outras estatísticas que podemos enumerar aqui. Impossível não lembrar a frase que a Luciana comentou comigo naquela noite antes de criar o blog: “Amor, eu sinto que Deus quer que eu compartilhe essa história com mais pessoas”. Esse sempre foi o espírito que nos guiou em cada texto. Procurávamos ao máximo colocar todos os detalhes do nosso dia a dia e do tratamento que começava. Nunca quisemos fazer uma propaganda religiosa ou mesmo expor ninguém, apenas tentávamos contar o que contaríamos caso um amigo nosso sentasse no sofá de nossa sala e perguntasse como estavam as coisas.  


Impossível seria reduzir a uma palavra só o que a Luciana sempre foi. Ela era serena e ao mesmo tempo intensa, ela era calma mas sabia ser brava quando necessário. Ela era dona de uma beleza e de um sorriso inconfundível (quantas vezes eu recebia elogios pela beleza dela) e ao mesmo tempo sabia conservar o jeito simples e humilde de quem não precisa provar o valor que tem. Sempre foi muito prestativa e meiga, e era impossível encontrar alguém que não gostasse dela ou a admirasse. Mas se eu tivesse que encerrar uma lista de qualidades da Luciana, eu falaria que ela sempre foi apaixonada pela vida.


Para ela, a vida devia ser vivida e aproveitada. Segundo ela, porque deixar para amanhã o que a gente pode aproveitar hoje? Isso não significava que ela era inconseqüente nas suas atitudes. Pelo contrário, ela sabia aproveitar as oportunidades que a vida lhe oferecia, mas sempre de uma forma responsável. Isso valia para o nosso relacionamento, para as amizades, para os cursos que ela fez e também para todas as viagens...algo que ela simplesmente amava fazer.


Ela tinha o costume de sempre agradecer a Deus quando viajava, especialmente pela oportunidade de conhecer mais um lugar. Assim viajamos praticamente uma vez por mês no nosso primeiro ano de casamento, e depois que ela ficou grávida tivemos a oportunidade de ir para Buenos Aires e para a Europa, um dos destinos que ela sempre quis fazer comigo.


Essa paixão pela vida foi algo que sempre chamou atenção durante todo o tratamento médico. No blog mesmo, a descrição que ela coloca é a seguinte:


“Somos um casal apaixonado! Temos um filho lindo chamado Pedro. Estou lutando pela vida da minha filha Helena, que está crescendo na minha barriga e lutando contra um câncer, que, se Deus quiser, está com os dias contados! Como digo, tenho duas coisas crescendo dentro de mim: uma precisa morrer para que a outra viva! Sei que Deus já fez sua escolha, minha Helena vai nascer, cheia de saúde e luz!”


Nas palavras de uma das enfermeiras que a acompanhou em São Paulo, a Luciana passou por todo o tratamento com uma dignidade difícil de ver em qualquer ser humano. Eu posso dizer que foi assim que ela passou toda a sua vida. Como qualquer ser humano, ela não era perfeita e fazia questão de repetir isso, especialmente para mim. Lembro das vezes em que ela sabia que estava errada mas não dava o braço a torcer...era até engraçado depois vê-la reconhecendo isso..rsrsr


Já comentei que pensamos muitas vezes em encerrar o blog, mas acabou que o tempo foi passando e não sentíamos isso calar fundo no coração. Pensamos em encerrar quando a Helena nasceu. Pensei em encerrar quando a Luciana partiu, mas em nenhum desses momentos essa decisão me tranquilizou. Há algum tempo eu vinha orando sobre isso e agora sinto que realmente é chegada a hora. Alguns podem até pensar que estou encerrando por conta de alguns comentários anônimos (e bem desagradáveis), que em nada condizem com o espírito do blog. A Luciana mesmo por várias vezes foi mal interpretada aqui (lembro de várias vezes que ela ficou chateada com algumas coisas que escreviam ou falavam para a gente). No meu caso já chegaram a insinuar que eu escrevo querendo que tenham pena de mim, que eu seria uma farsa ou qualquer coisa do gênero, mas isso não importa. O que importa é que acho que o objetivo principal do blog foi atingido: uma parte da história de luta pela vida da Luciana e da nossa família foi contada, procurando sempre glorificar a Deus, mesmo com as nossas imperfeições. 


Assim, para encerrar esse post, gostaria de deixar aqui a carta que escrevi para a Luciana para essa ocasião do término do blog, quando ela chegasse:


“Oi meu amor,

Não consigo começar a escrever sem pensar na saudade que sinto. Nem preciso dizer que a saudade por você é enorme e que a falta que você faz em nossas vidas é sentida dia após dia. Sua presença em nossas vidas independe de fotos ou de vídeos ou de recordações. Ela é como o céu que está acima de nós...não importa o lugar onde estamos, você sempre está lá conosco.


Amor, por mais que seja dolorida a sua ausência, hoje os momentos de dor são mais suaves e acho que você iria gostar de saber disso. Você não suportava ver ninguém sofrer e acho que você também não gostaria de ver ninguém da nossa família sofrer agora. Sempre me senti um privilegiado porque você reservava os seus momentos de sofrimento, as suas lágrimas para mim, e era no meu ombro onde você descansava. Era no meu ombro onde você se apoiava e sentir que você confiava plenamente em mim me fazia o homem mais feliz do mundo.  Saber que você me amava e me admirava foi o grande fato para eu melhorar a minha auto-estima...afinal, para eu ser amado por uma mulher tão incrível como você era sinal que algo de bom eu devia ter né..rsrsrs. Lembro bem da cara que você fazia quando eu falava isso para você..rsrsr


Mas meu amor, o objetivo de eu escrever essa carta é para falar para você que eu decidi encerrar o blog. Eu até acho que por você eu deveria ter feito isso há mais tempo, mas de qualquer forma eu penso que chegou a hora. Esse blog sempre foi o seu xodó e vários momentos gostosos que passamos foi falando sobre os comentários daqui, sobre os textos que escrevíamos ou mesmo das fotos que você queria compartilhar com todo mundo. Lembra de você mostrando o seu ensaio de grávida para as enfermeiras da oncologia do Einstein, na véspera da Helena nascer? Até hoje eu tenho a lista das fotos que você escolheu para publicar.


Por aqui as coisas estão indo bem. As crianças estão cada vez mais lindas e espertas. Sempre penso no orgulho que você teria (ou que deve ter) de ver o quanto elas estão se tornando lindas e especiais. A Helena está encantadora e cada dia mais parecida com você (segundo os seus pais isso inclui um gênio meio bravinho...rsrs) e o Pedro continua a criança linda e adorável que você tanto abraçava e beijava. Ele volta e meia pergunta de você e sei que ele sente saudade, mas isso não o impede de sempre falar o quanto você é linda e que agora você está no céu. Eu já os matriculei na escola e esse ano os dois sairão juntos para as aulas...lindo né? Aposto que você está orgulhosa dos pequenos.


Graças a Deus a relação com todos os nossos familiares está ótima meu amor. Todo mundo sempre passa aqui em casa para ver as crianças e sempre ajudam muito na tarefa de dar amor e carinho para eles. Somos privilegiados nesse sentido. 


Em relação a mim, eu acho que Deus tem me ajudado muito. Vejo que as coisas aqui em casa estão indo bem, apesar de todas as dificuldades de se criar dois filhos. Sempre me lembro de você e de todos os valores que compartilhamos ao longo dos nossos 17 anos de convivência e isso me inspira a amar e educar os nossos pequenos. Como você também deve saber, eu agora estou namorando. Conhecendo o seu jeito de quem sempre procurou a felicidade ao invés da tristeza, sei que você me apoiaria nisso. Foi lindo também ver o apoio de toda a nossa família, tanto do meu lado quanto do seu, nesse sentido. Sinto que Deus permitiu que o meu coração se abrisse para um novo relacionamento e que colocou uma pessoa muito especial como minha namorada. Obrigado por me fazer ver que isso em nada diminui a linda história de amor que vivemos.


Assim amor, eu queria aproveitar essa pequena carta para encerrar o nosso blog. Sinto que o propósito dele foi cumprido e tenho certeza que boa parte da nossa história ficou contada aqui. Espero ter honrado em cada post a sua vontade inicial quando o criou e ter mostrado para todos o quão grande é o nosso Deus e o quão maravilhosa é a obra que Ele fez nas nossas vidas.

Te amo muito!


Woltony”


Amigos, muito obrigado por todo o carinho sempre demonstrado e também pela paciência e amor que sempre tiveram conosco. Como cada comentário antes de ser publicado sempre vem primeiramente para mim para eu depois autorizar a publicação, caso alguém queira se comunicar por email, basta escrever um comentário escrevendo o seu email, que eu terei o maior prazer em responder. Podem ficar tranqüilos que comentários desse tipo não serão publicados, a fim de preservar a identidade de cada um. 


Antes de me despedir, gostaria de deixar um capítulo de 1 Coríntios para vocês, um dos preferidos da Luciana


1 Co 13

1 Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine.
2 Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei.
3 E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará.
4 O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece,
5 não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal;
6 não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade;
7 tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
8 O amor jamais acaba; mas, havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, passará;
9 porque, em parte, conhecemos e, em parte, profetizamos.
10 Quando, porém, vier o que é perfeito, então, o que é em parte será aniquilado.
11 Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisti das coisas próprias de menino.
12 Porque, agora, vemos como em espelho, obscuramente; então, veremos face a face. Agora, conheço em parte; então, conhecerei como também sou conhecido.
13 Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é o amor.

Um grande abraço e que Deus sempre os abençoe. Fiquem na graça de Deus


Woltony, Luciana (eternamente), Pedro e Helena

domingo, 25 de dezembro de 2011

Feliz Natal!!!






Oi amigos,


Hoje é um dia muito especial! É um daqueles dias pelos quais a gente espera o ano todo e que arrumar os preparativos é quase tão bom quanto curtir o dia mesmo. Existe gente que não gosta e que prefira outras datas comemorativas, mas o fato é que para mim o Natal sempre teve um significado muito especial.


Natal para mim sempre foi um sinônimo de união, mesmo que isso signifique passar a ceia com poucas pessoas. Lembro de um ano em que passamos o Natal com mais de 50 familiares, enquanto houve um ano que passamos com somente 6 pessoas. O que sempre importou foi a vontade de estarmos juntos naquele momento tão especial, onde celebramos o nascimento de Cristo. Afinal, é até uma honra quando alguém diz que quer passar o Natal com a gente, não é mesmo?


Não é minha intenção aqui discutir se o Natal é realmente uma festa cristã ou se Jesus Cristo nasceu no dia 25 de Dezembro, mas acho que o mais importante é lembrarmos nesse dia que Deus enviou ao mundo o seu filho, o seu filho unigênito. Assim, Deus se fez homem com o propósito maior de nos salvar, ou seja, de fazer algo que nunca conseguiríamos fazer por conta própria.


João 3:16-17

"Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.
Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que este fosse salvo por meio dele.”


Assim meus amigos, eu gostaria de desejar a todos um Feliz Natal e que Deus esteja sempre abençoando o coração de vocês!!! Desejo que o amor de Deus possa sempre preencher o coração de cada um de vocês!

 
Um grande abraço e fiquem com Deus!


Woltony, Luciana (eternamente), Pedro e Helena

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Chegando perto do fim


Oi amigos,


Esse provavelmente é um dos últimos posts desse blog. Por várias vezes eu ensaiei um término, pensei em um último capítulo ou um último post. Cheguei a pensar também em uma data significativa para isso acontecer. Inicialmente eu a Luciana comentamos que poderia ser o nascimento da Helena. Depois pensei que poderia ser quando a Luciana faleceu. Por último pensei que faria sentido encerrar no dia 27 de junho deste ano, quando relembramos o um ano da partida da Luciana. Porém, por uma série de razões, eu acabei por protelar esse momento. Sempre me deu prazer escrever e compartilhar um pouco das nossas vidas aqui. Esse blog era uma das paixões da Luciana e algo pelo qual ela sempre prezou. Segundo ela mesmo falava, Deus havia colocado em seu coração a vontade de compartilhar a experiência que ela estava passando, e eu fazia parte desse projeto também. Esse sempre foi o espírito do blog. 


Nem sempre somos compreendidos ou bem interpretados naquilo que escrevemos e acho que isso faz parte. Porém nos últimos dias têm acontecido algumas coisas que me deixaram muito chateados. Coisas como o comentário que recebi abaixo:


Anônimo deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Um pouco mais maduro agora..": 

Acho que esse blog tá muito abandonado. Acho que vc está trilhando novos caminhos e definitivamente nós não somos mais prioridade. Então, vc devia encerrar o blog. Mais digno do que deixar um comentário por mÊs. 



Não tenho problemas em receber críticas sobre alguma posição ou convicção minha. Muitas vezes já recebi comentários sobre pessoas criticando a minha fé ou especulando sobre a minha vida pessoal. Confesso que isso não me chateia. O que me deixa chateado é alguém, que nem mesmo assume a autoria do seu comentário, achar que o blog deve ser encerrado em virtude da freqüência de posts que são colocados e por final vir falar em dignidade e prioridades.


Esse último comentário me fez pensar na exposição que hoje nós temos, eu e minha família. Eu sempre procurei deixar tudo sem restrição, sem a história de ter que ser um usuário convidado para acessar o blog e só nos últimos tempos que coloquei a moderação de comentários. Isso valia também para o facebook, porém até lá no facebook eu já recebi alguns comentários e emails que me deixaram muito chateados, por terem sido bem mal interpretados.


Somando tudo isso ao desejo que eu já tinha de encerrar esse blog, por achar que ele já havia cumprido o seu papel, que tomei a decisão de escrever os últimos posts. O de hoje é inspirado no pedido de uma grande amiga, a Mirys (http://diariodos3mosqueteiros.blogspot.com). Ela havia pedido para algumas pessoas escreverem sobre o que elas haviam aprendido em 2011, e inspirado por esse pedido tão especial eu resolvi dedicar esse penúltimo post ao que eu aprendi em 2011.


Eu confesso que fico com um medo de falar sobre o que aprendi em 2011. Fico com medo porque você precisa estar muito seguro quando fala que aprendeu alguma coisa. Lembro que quando eu estudava para o vestibular, a gente brincava dizendo que só havia aprendido alguma coisa se a gente fosse capaz de explicar aquilo para qualquer pessoa. Assim, eu acho que nesse ano de 2011 Deus permitiu que eu tivesse alguma “visões”, alguns insights sobre várias coisas. Se eu realmente aprendi, talvez o tempo venha dizer. Lembro de uma frase do Paulo Freire que diz mais ou menos assim: “Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre.” 


Assim, acho que 2011 foi para mim o início de um aprendizado. O início de um processo de aprendizagem. Como muitos que acompanham a nossa história sabem, eu fiquei viúvo em Junho de 2010 e desde lá muita coisa aconteceu na minha vida e na dos meus filhos. O ano de 2011 era muito emblemático para mim, pois eu tinha algumas grandes metas. Eu comecei o ano com a intenção de reformar o meu apartamento e efetivamente me mudar para a minha casa. Queria também organizar o aniversário das crianças e o batizado da Helena. Por último havia também o desejo de organizar as nossas vidas para morarmos todos juntos. Aos poucos tudo isso foi acontecendo e daí talvez venha a minha primeira grande lição de 2011.


Em 2011 eu pude ver melhor que o tempo não para, que a vida não espera você estar pronto. Sabe aquela cena de um trem partindo da estação, onde muitas pessoas já estão lá dentro dos seus vagões e outras estão correndo atrás do trem? Pois é, a vida não espera.  Por mais que eu estivesse sofrendo, cabia a mim fazer um bocado de coisas, tomar uma série de decisões. Escola do Pedro, festa de aniversário das crianças, reforma do apartamento, vida financeira. Alguém poderia virar para mim e dizer:  “Mas poxa, essa é a vida normal...do que você está reclamando?”. Não estou reclamando...é que o luto dá uma preguiça danada...não dá vontade de fazer nada.


Do luto e da preguiça aprendi outra coisa. Usando o exemplo do trem, eu muitas vezes não queria correr atrás de vagão nenhum. Queria ficar lá parado. Mas não havia escolha, eu precisava correr atrás...e para me ajudar nisso eu me apoiei em vários amigos. E amigos são um dos grandes tesouros que Deus pode nos dar. Amigos que me chamavam para sair, para almoçar. Amigos que me ligavam querendo saber como eu estava e amigos que serviam de verdadeiros confidentes. Amigos que oraram comigo sem eu mesmo pedir e que me receberam de braços abertos nas suas casas, com o intuito simplesmente de me dar amor e carinho.


Não posso falar de amor e carinho sem falar em outra coisa que aprendi em 2011, que foi a importância dos nossos familiares. Aqui estão incluídos não só os meus familiares mas também os da Luciana, que fazem parte também da minha família. Todos eles foram e continuam sendo instrumentos de Deus na minha vida, pois vejo hoje de uma forma mais clara os laços de amor e de afeto que nos unem. O amor entre nós fez com que várias barreiras fossem quebradas e que vários laços fossem criados. Todos eles foram muitas vezes o meu refúgio e talvez eles nem tenham percebido isso. Um almoço no domingo ou uma pizza em uma noite chuvosa servia muitas vezes para que eu pudesse recobrar um pouco das minhas energias. Isso sem falar no carinho que todos eles possuem pelas crianças.


Bem, não poderia falar do que aprendi de 2011 sem falar dos meus filhos. Eu fico totalmente sem palavras para falar deles e do amor que hoje me inunda quando penso neles. Acho que nunca o meu lado “pai” ficou tão aflorado como agora em 2011 e talvez isso tenha permitido a gente alcançar uma intimidade nunca antes alcançada. O amor pelos filhos é algo totalmente sem palavras e sem esse amor eu não conseguiria imaginar como teria sido o meu ano. O amor por eles me conduziu e me inspirou em todos os momentos, em todas as minhas decisões. Com eles eu me sinto mais inteiro, mais vivo. Colocá-lo para dormir, dar banho, dar comida, chegar do trabalho e vê-los correndo para os meus braços, poder abraçá-los, dar uma bronca e depois daquele choro todo vê-los se aproximarem e pedirem o meu colo...nossa..é algo que só de pensar já dá vontade de chorar! Sempre falo que meus filhos são um dos grandes presentes de Deus para mim, e que se Ele permitiu que a Luciana partisse e eu ficasse é porque tenho ainda um grande papel na vida deles.


Por fim, acho que 2011 foi também um ano de grande aprendizado entre eu e Deus. Eu acho que comecei o ano magoado com Ele. Existia ainda uma grande mágoa, que era sufocada pelo meu amor e pelo meu respeito. Nunca falei mal de Deus, mas às vezes era doído saber que Ele havia permitido tudo aquilo. O “porque?” era substituído por um “eu confio em Deus”, que muitas vezes não era tão natural. Ao longo de 2011 Deus me mostrou que a sua misericórdia era sem limites. Ele não trouxe a Luciana de volta, mas permitiu que o meu coração fosse sendo trabalhado para eu entregá-la para Ele. Afinal, ela nunca foi minha. Ele foi colocando no meu coração um orgulho infinito por eu ter vivido coisas maravilhosas com uma pessoa fantástica, por eu ter vivido um amor raro, um amor recheado de romance, paixão, cumplicidade, maturidade e alicerçado em Jesus. E Ele também foi me mostrando e me consolando que agora a minha realidade era outra. Foi me ajudando a fazer a transição do casado para o viúvo. Foi curando o meu coração e me dando tranqüilidade para voltar a acreditar nEle e no seu infinito amor, para voltar a me aproximar do seu abraço, da sua fé e da sua palavra. E assim Ele foi me transformando até o ponto em que estou agora, voltando a abrir o meu coração para um novo amor, uma nova história.


Talvez tudo isso eu continue vendo no ano de 2012. Talvez eu chegue ao final de 2012 aprendendo um pouco mais sobre esses temas. Mas só de conseguir escrever tudo isso eu vejo que o ano de 2011 foi muito importante e significativo na minha vida e na da minha família. Isso me faz ser grato a Deus por esse ano que se aproxima do fim.


Um grande abraço meus amigos e fiquem com Deus. Antes do fim do ano eu devo escrever os últimos posts.


Com carinho,


Woltony, Luciana (eternamente), Pedro e Helena

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Um pouco mais maduro agora..




Oi amigos,


Depois de um bom tempo afastado daqui do blog, aqui estou. Peço desculpas por ter sumido durante esse tempinho...não sei se foi por falta de tempo ou mesmo por uma dificuldade em me abrir um pouco por aqui. Mas fico animado em poder voltar a escrever e compartilhar um pouco mais com vocês os últimos acontecimentos.


Começando a falar dos meus pequenos, eles continuam lindos e encantadores. O Pedro tem se desenvolvido muito e continua super esperto. Vejo que ele está muito mais comunicativo e a sua inteligência emocional muitas vezes me espanta. Ele tem um jeito carinhoso de lidar com cada pessoa. Tenho aprendido muito com ele, de diversas formas. Com ele tenho aprendido a ser mais paciente, mais compreensivo, mas ao mesmo tempo firme na sua educação. Vejo também a importância de se colocar limites e que isso, quando feito da forma certa, não traz nenhum trauma à criança. Acho até que eles pedem por isso...que eles pedem que alguém coloque limite para eles. E nada melhor que ter os seus limites colocados por alguém que te ame (talvez seja assim na nossa vida espiritual...Deus que nos ama mas que também coloca limites na nossa vida).



Outra que vem encantando e surpreendendo é a Helena. Ela tem se desenvolvido muito e deixado todos de boca aberta. Já está começando a montar algumas frases, canta, brinca e agora começou até a tocar gaita! Ela gosta também de dar os seus comandos e não se intimida quando o Pedro fala grosso com ela! É até engraçado ver aquele “toco” de gente querendo bater no irmão que é muito maior! Lindo também é ver o quanto ela está apegadinha a mim. Quando chego ela corre na minha direção e abraço as minhas pernas. Ela pede colo e gruda nos meus braços ...vem toda dengosa e apoia a cabeça nos meus ombros. Tão lindo ver como ela se sente segura nos meus braços que o meu coração se enche de amor e paz.



Falando um pouco de mim, nesse meio tempo foi o meu aniversário. Eu agora estou com 34 anos e não sei bem porque essa idade teve um peso diferente na minha vida. Não sei se foi porque nesse último ano aconteceram muitas coisas ou se foi porque é uma idade que a Luciana não chegou a completar (ela faleceu com 33 anos de idade), mas o fato é que hoje tenho me sentido mais maduro. Fico pensando que em 34 anos de vida tive a oportunidade de viver coisas que várias pessoas não vivem com 60 anos de vida! Mas penso que tudo isso seria inútil caso Deus não estivesse comigo em todo esse tempo.



Salmo 84:10

Pois um dia nos teus átrios vale mais que mil; prefiro estar à porta da casa do meu Deus, a permanecer nas tendas da perversidade.


Uma outra coisa que aconteceu nesses últimos tempos é que agora estou namorando. Eu me sinto muito feliz em poder compartilhar isso aqui. No início pensei que seria estranho colocar isso aqui no blog...pensei que poderia chocar ou parecer para alguns uma falta de respeito. Mas mudei de ideia pelo apoio que recebi de vários amigos e familiares. Percebi isso quando coloquei essa informação no meu facebook e vi o apoio que todos me deram, percebi quando comentei com os amigos mais próximos e pude ver a felicidade deles, a torcida deles.



Conversava com a minha psicóloga há um tempo atrás sobre esse assunto e ela me perguntou se eu achava que a Luciana seria contra eu namorar, imaginando que isso fosse possível. Ela pediu para eu imaginar que eu estava conversando com ela. Eu respondi que eu era muito tranquilo em relação ao que a Luciana falaria ou acharia, pois ela era uma pessoa muito tranquila, muito iluminada e que com certeza torceria pela minha felicidade. O problema não seria a Luciana...o problema sempre foi eu achar que não estava preparado para dar esse passo de compromisso. Mas acho que esse tempo foi chegando. Assim, eu dei esse passo com muita serenidade.



Falei anteriormente que tenho me sentido mais maduro. Percebo isso porque hoje acho que evolui no sentido de entregar mais a Luciana para Deus. Hoje, nas minhas orações, agradeço muito a Deus por todas as coisas que eu vivi ao lado dela. Por todas as coisas que aprendi com ela e pela honra que para mim é ser o pai dos filhos dela. Por achar que não é porque eu estou namorando que eu desonro toda a nossa história.



Tenho agradecido a Deus também por permitir que eu namore hoje uma pessoa maravilhosa. Uma pessoa com quem tenho aprendido muito e que me fez sentir coisas que eu imaginava que não pudesse voltar a sentir. Acho que Deus realmente gosta de mim.



Um grande abraço meus amigos e fiquem com Deus!



Woltony, Luciana (eternamente), Pedro e Helena

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Mais uma reflexão sobre a morte





Oi amigos,


Hoje é dia de finados. Não sei explicar se é em função da data, se é porque ontem saiu uma matéria sobre o blog no Correio Braziliense ou se foi a chuva de lembranças entre ontem e hoje que me fizeram pensar muito na Luciana e também sobre a morte. Uma outra coisa também que aconteceu é que em virtude do câncer do ex-presidente Lula, o assunto “câncer” tem sido muito debatido.

Em alguns momentos aqui no blog eu comentei (ainda que superficialmente) como foram os últimos dias antes da Luciana partir. Sem querer ser repetitivo, queria somente trazer um texto que li hoje e que fala sobre morte. Na verdade o texto fala sobre eutanásia, mas o trecho que transcrevo aqui faz uma reflexão sobre algo que a gente pensava naqueles dias. Lembro que os médicos diziam que a Luciana não era mais caso de UTI, pois caso acontecesse algo (uma parada respiratória, por exemplo), a UTI não ajudaria em nada na melhora dela, mas somente retardaria algo inevitável. Assim, queria colocar aqui esse trechinho que talvez sirva como reflexão.

“Mas eu pergunto: a vida não será com a música? Uma música sem fim seria insuportável. Toda música quer morrer. A morte é parte da beleza da música. A manga pendente num galho: tão linda, tão vermelha. Mas o tempo chega quando ela quer morrer. A criança brinca o dia inteiro. Chegada a noite, ela está cansada. Ela quer dormir. Que crueldade seria impedir que a criança dormisse quando o seu corpo quer dormir.
A vida não pode ser medida por batidas de coração ou ondas elétricas. Como um instrumento musical, a vida só vale a pena ser vivida enquanto o corpo for capaz de produzir música, ainda que seja a de um simples sorriso.

Admitamos, para efeito de argumentação, que a vida é dada por Deus e que somente Deus tem o direito de tirá-la. Qualquer intervenção mecânica ou química que tenha por objetivo fazer com que a vida dê o seu acorde final seria pecado, assassinato.

Vamos levar o argumento às suas últimas conseqüências: se Deus é o senhor da vida e também o senhor da morte, qualquer coisas que se faça para impedir a morte, que aconteceria inevitavelmente se o corpo fosse entregue à vontade de Deus, sem os artifícios humanos para prolongá-la, seriam também uma transgressão da vontade divina. Tirar a vida artificialmente seria tão pecaminoso quanto impedir a morte artificialmente – porque se trata de intromissões dos homens na ordem natural das coisas determinada por Deus.

A vida, esgotada a alegria, deseja morrer.”

Um grande abraço meus amigos e fiquem com Deus. No próximo post trago mais notícias nossas!!

Woltony, Luciana (eternamente), Pedro e Helena

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Culpa



Oi amigos,

Após um tempinho longe do blog eu resolvi voltar a escrever. Confesso que nos últimos dias havia momentos em que eu oscilava entre escrever coisas simples, como o cotidiano das crianças, e escrever outros assuntos um pouco mais complexos. Esses dias porém pensei em escrever algo que voltou a ser um tema importante na minha vida e que eu poderia compartilhar aqui no blog, mesmo porque se relaciona com tudo o que tenho vivido nos últimos tempos. Estou falando sobre o sentimento da culpa e sobre o fato de sermos filhos de Deus.

Como Cristão, o sentimento de culpa sempre me despertou atenção e curiosidade, pois foi somente compreendendo o que Cristo fez por nós, somente compreendendo a Graça que nos é dada através do sacrifício dEle é que podemos nos livrar de todo o sentimento de culpa. Porém mesmo compreendendo e aceitando isso de coração, sinto que ainda carrego várias culpas. Uma das principais hoje em dia, que é a que quero compartilhar aqui, tem a ver com a morte da Luciana.

Quem me conhece um pouco sabe que é uma característica minha querer fazer tudo, querer assumir várias responsabilidades e procurar dar conta de tudo. Não vou dizer que chego a ser perfeccionista, mas geralmente me cobro para que tudo dê certo. Sei que isso pode não ser bom. Quando recebemos o diagnóstico do câncer, a minha reação foi ficar parado, calado. A Luciana estava muito abalada e chorava muito, enquanto eu permanecia mudo. Naquela hora eu não chorei e praticamente não falei. Mais tarde...sozinho...no banheiro...eu chorei. Tentava compreender como algo tão terrível tinha acabado de “cair” nas nossas vidas e sentia que a minha responsabilidade ali era dar o máximo de mim para que ela ficasse bem e ficasse livre daquele mal. Era uma briga que começava e eu estava disposto a me entregar de corpo e alma. Eu amava a Luciana o suficiente para sacrificar qualquer coisa pela vida dela. O câncer tem disso...ele te chama para a briga...ele te dá uma esperança de vitória, por mais cruel ou agressivo que ele seja.

Boa parte do que aconteceu em seguida está escrito aqui. Foram 10 meses entre o primeiro sintoma e o falecimento dela. Várias opiniões foram ouvidas e a gente aprendeu a nunca confiar de primeira em toda opinião médica. Por várias vezes eu questionava os diagnósticos e tentava sugerir caminhos alternativos. Existia muita confusão a respeito do que era melhor fazer com a Luciana e com a Helena, e assim eu pedia a Deus que tranquilizasse o meu coração para escolher sempre o melhor caminho. Eu lia livros, assinava periódicos sobre câncer e me cadastrei em sites de centros de oncologia pelo mundo afora. Depois de colocar a Luciana para dormir eu ia para a Internet e passava horas pesquisando sobre novas drogas ou drogas alternativas. Mas chegou um momento onde nada parecia surtir efeito.

A Luciana faleceu em um domingo. Gostaria de citar dois acontecimentos ocorridos naquela semana. O primeiro foi que os médicos frequentemente me chamavam para me preparar para o pior. Lembro mesmo de fugir deles, de não estar no quarto quando eles chegavam, pois eu não queria ouvir o mesmo discurso. Quantas vezes o velho ritual da enfermeira me chamar “discretamente” para conversar com eles perto do posto de enfermagem se repetiu. No início discutíamos imagens, drogas e tratamentos. No final não havia mais nada a ser discutido. Nós nos entreolhávamos, concordávamos em algumas coisas e esperávamos os próximos acontecimento. Até que um dos médicos da equipe, um rapaz um pouco mais novo do que eu, me chamou em um canto para conversar. Ele gostava muito da Luciana e de mim. Lembro dele estar com lágrimas nos olhos (eu também chorava muito) e em determinado momento ele falou assim: “Woltony, ninguém é invencível”. Uma frase meio óbvia né? Eu lembro de concordar com ele no momento, mas no meu íntimo eu refutava com todas as minhas forças isso. Eu havia feito isso durante os últimos dez meses! O outro fato, e esse é o mais importante, aconteceu enquanto eu estava na capela do hospital e resolvi abrir a bíblia para ler. Foram três trechos de livros diferentes, porém todos eles falavam sobre morte. Na hora me veio uma voz interior que dizia que havia chegada a hora da Luciana. Era algo até bem claro para mim aquela “voz”. Mas mais uma vez eu refutei. Pensei que não queria ouvir aquela voz. No domingo da morte dela, eu não me revoltei. Não briguei com Deus. Lembro só de lembrar da expressão de Cristo: “Está consumado”. Liguei para o nosso oncologista daqui de Brasília e falei que queria fazer uma pergunta só: “Existia algo mais que eu podia fazer?”. “Não”, foi a resposta dele, com a voz embargada. “Vocês fizeram tudo. Vocês foram aonde quase ninguém vai, aonde quase nenhuma família vai”.

Para mim eu havia aceitado a morte da Luciana, por mais dolorido que fosse. Nas conversas com a minha psicóloga isso nunca foi um problema. Mas com o tempo, com a terapia e com algumas coisas que Deus vem mostrando para mim, comecei a perceber que tem duas coisas que ainda não fiz, duas coisas que ainda não processei. Uma é que por alguma razão eu me sinto culpado pela morte dela, eu permaneço com uma sensação que poderia ter feito mais e não fiz. A outra é que eu ainda não “entreguei” a Luciana para Deus. É muito estranho pois a minha parte racional aceita bem isso. O que mais eu poderia fazer? Com quem mais a Luciana poderia estar? Mas eu sinto que não são coisas 100% resolvidas no meu coração.

Ontem conversava sobre isso no meu grupo de estudo bíblico. Falava sobre algumas consequências que isso pode ter na minha vida (que inclusive já aconteceram), sobre a dificuldade que talvez eu tenha de pensar em um novo compromisso, sendo que ainda carrego algumas culpas, sendo que ainda tenho medo de não corresponder às expectativas que colocam em mim. Medo de não vir a ser um bom companheiro...medo de não fazer a pessoa ao meu lado feliz são pensamentos constantes. Enquanto eu falava isso um amigo meu comentou: “Woltony, nós somos filhos de Deus. Através de Cristo, Deus nos tornou filhos dEle. Mas nós não somos Deus!”. Sei que se fosse possível eu conversar com a Luciana, ela falaria para eu não me sentir culpado. Ela vivia falando para eu “relaxar” mais, para eu não me cobrar tanto.

A minha psicóloga ontem sugeriu que eu fizesse algumas atividades que talvez me ajudassem. Engraçado como a minha primeira reação foi refutar. Mas no final eu aceitei, com a condição que fosse aos poucos. Algumas coisas que ela sugeriu, mesmo simples, só de pensar já me faziam sentir aquele perto no peito.

Amigos, como eu acho que acabei escrevendo muito, vou parando por aqui. Prometo depois contar mais como as coisas estão indo e trazer mais noticias das crianças.

Um grande beijo e fiquem com Deus. Que Ele esteja sempre abençoando todos vocês!

Woltony, Luciana (eternamente), Pedro e Helena

terça-feira, 27 de setembro de 2011

As estações

Oi amigos,

Bem, como todos devem saber a gente mora em Brasília e por aqui nos últimos tempos tem feito um calor muito grande, acompanhado da secura que já é comum nessa época. Com isso vêm todos aqueles problemas comuns da secura. As crianças tem uma tendência a pegar mais viroses, a respiração fica mais difícil, os jornais todo dia falam de algum foco de queimada, é um tal de todo mundo usar umidificador e em alguns momentos as escolas recomendam que as crianças fiquem em casa, pois a umidade voltou a chegar perto dos 10%.

Como tudo na vida é temporário, chega um dia em que as chuvas voltam a cair. Aqui em Brasília foi no último domingo. Parecia final da copa do mundo. As pessoas ficavam na janela admiradas, carros buzinando nas ruas e a oportunidade de sentir aquele cheiro de grama molhada de novo. Mas, como todo ano em que as chuvas voltam a cair, acontece no outro dia aquela sequência de batidas. Ontem mesmo eu vi três. Além das batidas, acontecem também alguns apagões de energia e até frio fez ontem! Nas ruas você via algumas pessoas de casaco e outras desprevenidas (como eu) tentando se esquentar. Passei por alguns termômetros que chegavam a marcar 16 graus e assim o brasiliense começa a se acostumar com a chegada das chuvas.

Beleza, mas porque eu agora estou falando da vida do brasiliense e dos problemas da chegada das chuvas? Estou falando porque hoje de manhã, antes de vir trabalhar, eu saí para fazer uma dos meus passeios favoritos que é tomar um cafezinho. Lá na padaria eu ficava olhando as pessoas se protegendo do vento frio (e eu de novo desprotegido) e lembrei de um texto que uma vez eu li. O texto falava da sabedoria da natureza e das estações do ano. Não vou lembrar exatamente de tudo, mas o que o autor reforçava era que a natureza procurava viver em harmonia com ela mesma. Existe uma época certa para cada coisa, uma estação apropriada para cada fase da nossa vida. Segundo o autor, seria sábio então procurarmos identificar os sinais que indicam em que estação estamos vivendo e tentar viver de acordo com ela. Não que isso signifique um conformismo ou comodismo, mas às vezes vivemos presos a um determinado tipo de comportamento que não condiz com o que se passa à nossa volta. Como está escrito lá no livro de Eclesiastes 3: 1 - 8

Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu:

há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou;

tempo de matar e tempo de curar; tempo de derribar e tempo de edificar;

tempo de chorar e tempo de rir; tempo de prantear e tempo de saltar de alegria;

tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar;

tempo de buscar e tempo de perder; tempo de guardar e tempo de deitar fora;

tempo de rasgar e tempo de coser; tempo de estar calado e tempo de falar;

tempo de amar e tempo de aborrecer; tempo de guerra e tempo de paz.

Hoje é dia 27 de Setembro e faz exatamente 1 ano e 3 meses que a Luciana partiu. Tem horas que ainda não acredito. Tem horas que parece que ela vai chegar a qualquer hora. Tem horas que acho que ela está lá no hospital e eu só saí para comprar alguns remédios e comidinhas que ela gostava. Por mais que até hoje seja muito dolorido encarar essa realidade, não tenho como negar que ela partiu. Não posso negar que o nosso bom Deus permitiu que ela partisse. Lembro do seu semblante tranquilo momentos antes. Lembro ainda dos últimos olhares, onde nada precisava ser verbalizado, mas tudo era dito. Dito e ouvido não por boca e ouvidos, mas sim por alma e coração. Lembro da dor que senti no peito quando ela partiu, da dor que rasgava o meu coração e parecia não mais ter fim, mas lembro também do alívio quando pensei que ela não estava sofrendo mais, que agora o seu espirito não estaria mais preso a um corpo que há muito havia sendo maltratado e tomado por um tipo de câncer extremamente agressivo.

Isso tudo passou. Ainda dói e ainda sinto saudades, mas tudo isso passou. Hoje as crianças brincam pela casa e fazem charme quando saio para trabalhar. Helena gruda na minha calça e pede colo, nitidamente não querendo que eu saia. Pedro fala que eu já trabalhei ontem e não preciso então trabalhar hoje (como eu queria que ele tivesse razão...rsrs). Explico que o papai precisa trabalhar mas que logo logo eu estou de volta. Ele já entende melhor isso e vejo que a Helena começa aos poucos, e contra a vontade dela, entender que eu saio mas que eu volto. Gostaria muito de poder fazer isso junto com a Luciana, de leva-la para o trabalho e ao fim do dia poder voltar para casa com ela, dando todo o nosso amor para os nossos queridos filhos. Porém não posso e não consigo mudar os fatos. Procuro então dar o melhor de mim para eles, pois eles não merecem nada menos do que isso. Era assim que eu era quando namorava com a Luciana, era assim quando casamos e era assim quando tivemos os nossos filhos. Minha família merece o melhor de mim. Se houvesse uma estação do ano que simbolizasse isso, seria uma que indicasse que hoje sou um pai que tem duas crianças lindas e que precisam de mim. E o sol hoje brilha lá em casa. Aliás, tenho dois Sóis....um que se chama Pedro e outro que se chama Helena.

Mas em que estação eu estou? Caramba, tem horas que acho que preciso encontrar essa resposta! Mas poxa vida...eu me acho tão lento para perceber algumas coisas. Acho até que agora eu estou pior. Algumas pessoas me ligam pedindo orientação sobre tratamentos de câncer e fico feliz em ajudar. Uma amiga toma a iniciativa de imprimir vários posts e me liga pedindo autorização para passar esse material para pacientes que estão com câncer, pois acredita que pode ajudar outras pessoas. Será que existe algo a mais que posso fazer? Tenho pensado nisso ultimamente. E o meu coração, como ele está? Ta aí uma boa pergunta! Ainda estou nessa transição de casado para viúvo...e talvez hoje eu não seja nem uma coisa nem outra! Constantemente me atrapalho e talvez eu não saiba lidar com os meus sentimentos. Eu até confesso que gostaria de ter mais certezas que dúvidas, de estar mais inteiro e não pela metade. Eu até sinto que caminho para isso. Olho e vejo que já tirei a aliança. Sinto que me permito coisas que há um tempo atrás não cabiam. Sinto que o meu coração também se permite coisa que há um tempo atrás também não cabiam. Ainda é tudo muito novo e ainda dói muita vezes. Mas acho que estou andando para frente. Um dia eu vou olhar e perceber que entendi em que estação eu estou. Uma dia vou ver que está frio e estou de casaco J

Um grande abraço meus amigos e fiquem com Deus. Desculpa a demora em escrever esse post, porém nem sempre os pensamentos vinham de uma forma linear.

Um abraço,

Woltony, Luciana (eternamente), Pedro e Helena.