Oi amigos,
Esse é o último post desse blog.
Nunca pensei que seria tão difícil fazer isso. Nas outras vezes que comentei
sobre o encerramento desse site, não imaginava como seria esse momento, mas com
certeza não poderia imaginar o frio na barriga que estou agora, a sensação de
querer colocar um mar de idéias e emoções aqui e mesmo assim ter que escolher
as palavras mais significativas.
Ao longo dos mais de 2 anos de
blog, foram ao todo 235 postagens, 527 seguidores cadastrados, 280645
pageviews, 5687 comentários publicados e houveram dias com mais de 1000 acessos
distintos, para citar algumas das estatísticas. Porém existem algumas
estatísticas que nunca poderão ser computadas, como a quantidade de amor que a
Luciana e a nossa família receberam durante esse tempo, a quantidade de pessoas
que torceram pelo nascimento da Helena e pela cura da Luciana, a quantidade de
leitores que falaram que se sentiram tocados pelo exemplo de luta da Luciana
durante esse tempo, as orações e pedidos de vida em favor da Luciana e da
Helena, entre tantas outras estatísticas que podemos enumerar aqui. Impossível
não lembrar a frase que a Luciana comentou comigo naquela noite antes de criar
o blog: “Amor, eu sinto que Deus quer que eu compartilhe essa história com mais
pessoas”. Esse sempre foi o espírito que nos guiou em cada texto. Procurávamos
ao máximo colocar todos os detalhes do nosso dia a dia e do tratamento que
começava. Nunca quisemos fazer uma propaganda religiosa ou mesmo expor ninguém,
apenas tentávamos contar o que contaríamos caso um amigo nosso sentasse no sofá
de nossa sala e perguntasse como estavam as coisas.
Impossível seria reduzir a uma palavra
só o que a Luciana sempre foi. Ela era serena e ao mesmo tempo intensa, ela era
calma mas sabia ser brava quando necessário. Ela era dona de uma beleza e de um
sorriso inconfundível (quantas vezes eu recebia elogios pela beleza dela) e ao
mesmo tempo sabia conservar o jeito simples e humilde de quem não precisa provar
o valor que tem. Sempre foi muito prestativa e meiga, e era impossível
encontrar alguém que não gostasse dela ou a admirasse. Mas se eu tivesse que
encerrar uma lista de qualidades da Luciana, eu falaria que ela sempre foi
apaixonada pela vida.
Para ela, a vida devia ser vivida
e aproveitada. Segundo ela, porque deixar para amanhã o que a gente pode
aproveitar hoje? Isso não significava que ela era inconseqüente nas suas
atitudes. Pelo contrário, ela sabia aproveitar as oportunidades que a vida lhe
oferecia, mas sempre de uma forma responsável. Isso valia para o nosso
relacionamento, para as amizades, para os cursos que ela fez e também para
todas as viagens...algo que ela simplesmente amava fazer.
Ela tinha o costume de sempre
agradecer a Deus quando viajava, especialmente pela oportunidade de conhecer
mais um lugar. Assim viajamos praticamente uma vez por mês no nosso primeiro
ano de casamento, e depois que ela ficou grávida tivemos a oportunidade de ir
para Buenos Aires e para a Europa, um dos destinos que ela sempre quis fazer
comigo.
Essa paixão pela vida foi algo
que sempre chamou atenção durante todo o tratamento médico. No blog mesmo, a
descrição que ela coloca é a seguinte:
“Somos um casal apaixonado! Temos
um filho lindo chamado Pedro. Estou lutando pela vida da minha filha Helena,
que está crescendo na minha barriga e lutando contra um câncer, que, se Deus
quiser, está com os dias contados! Como digo, tenho duas coisas crescendo
dentro de mim: uma precisa morrer para que a outra viva! Sei que Deus já fez
sua escolha, minha Helena vai nascer, cheia de saúde e luz!”
Nas palavras de uma das
enfermeiras que a acompanhou em São Paulo, a Luciana passou por todo o
tratamento com uma dignidade difícil de ver em qualquer ser humano. Eu posso
dizer que foi assim que ela passou toda a sua vida. Como qualquer ser humano,
ela não era perfeita e fazia questão de repetir isso, especialmente para mim.
Lembro das vezes em que ela sabia que estava errada mas não dava o braço a
torcer...era até engraçado depois vê-la reconhecendo isso..rsrsr
Já comentei que pensamos muitas
vezes em encerrar o blog, mas acabou que o tempo foi passando e não sentíamos
isso calar fundo no coração. Pensamos em encerrar quando a Helena nasceu.
Pensei em encerrar quando a Luciana partiu, mas em nenhum desses momentos essa
decisão me tranquilizou. Há algum tempo eu vinha orando sobre isso e agora
sinto que realmente é chegada a hora. Alguns podem até pensar que estou
encerrando por conta de alguns comentários anônimos (e bem desagradáveis), que
em nada condizem com o espírito do blog. A Luciana mesmo por várias vezes foi
mal interpretada aqui (lembro de várias vezes que ela ficou chateada com
algumas coisas que escreviam ou falavam para a gente). No meu caso já chegaram
a insinuar que eu escrevo querendo que tenham pena de mim, que eu seria uma farsa
ou qualquer coisa do gênero, mas isso não importa. O que importa é que acho que
o objetivo principal do blog foi atingido: uma parte da história de luta pela
vida da Luciana e da nossa família foi contada, procurando sempre glorificar a
Deus, mesmo com as nossas imperfeições.
Assim, para encerrar esse post,
gostaria de deixar aqui a carta que escrevi para a Luciana para essa ocasião do
término do blog, quando ela chegasse:
“Oi meu amor,
Não consigo começar a escrever
sem pensar na saudade que sinto. Nem preciso dizer que a saudade por você é enorme
e que a falta que você faz em nossas vidas é sentida dia após dia. Sua presença
em nossas vidas independe de fotos ou de vídeos ou de recordações. Ela é como o
céu que está acima de nós...não importa o lugar onde estamos, você sempre está lá
conosco.
Amor, por mais que seja dolorida
a sua ausência, hoje os momentos de dor são mais suaves e acho que você iria
gostar de saber disso. Você não suportava ver ninguém sofrer e acho que você
também não gostaria de ver ninguém da nossa família sofrer agora. Sempre me
senti um privilegiado porque você reservava os seus momentos de sofrimento, as
suas lágrimas para mim, e era no meu ombro onde você descansava. Era no meu ombro
onde você se apoiava e sentir que você confiava plenamente em mim me fazia o
homem mais feliz do mundo. Saber que
você me amava e me admirava foi o grande fato para eu melhorar a minha auto-estima...afinal,
para eu ser amado por uma mulher tão incrível como você era sinal que algo de
bom eu devia ter né..rsrsrs. Lembro bem da cara que você fazia quando eu falava
isso para você..rsrsr
Mas meu amor, o objetivo de eu
escrever essa carta é para falar para você que eu decidi encerrar o blog. Eu até
acho que por você eu deveria ter feito isso há mais tempo, mas de qualquer
forma eu penso que chegou a hora. Esse blog sempre foi o seu xodó e vários
momentos gostosos que passamos foi falando sobre os comentários daqui, sobre os
textos que escrevíamos ou mesmo das fotos que você queria compartilhar com todo
mundo. Lembra de você mostrando o seu ensaio de grávida para as enfermeiras da
oncologia do Einstein, na véspera da Helena nascer? Até hoje eu tenho a lista
das fotos que você escolheu para publicar.
Por aqui as coisas estão indo
bem. As crianças estão cada vez mais lindas e espertas. Sempre penso no orgulho
que você teria (ou que deve ter) de ver o quanto elas estão se tornando lindas
e especiais. A Helena está encantadora e cada dia mais parecida com você (segundo
os seus pais isso inclui um gênio meio bravinho...rsrs) e o Pedro continua a
criança linda e adorável que você tanto abraçava e beijava. Ele volta e meia
pergunta de você e sei que ele sente saudade, mas isso não o impede de sempre
falar o quanto você é linda e que agora você está no céu. Eu já os matriculei
na escola e esse ano os dois sairão juntos para as aulas...lindo né? Aposto que
você está orgulhosa dos pequenos.
Graças a Deus a relação com todos
os nossos familiares está ótima meu amor. Todo mundo sempre passa aqui em casa
para ver as crianças e sempre ajudam muito na tarefa de dar amor e carinho para
eles. Somos privilegiados nesse sentido.
Em relação a mim, eu acho que Deus
tem me ajudado muito. Vejo que as coisas aqui em casa estão indo bem, apesar de
todas as dificuldades de se criar dois filhos. Sempre me lembro de você e de
todos os valores que compartilhamos ao longo dos nossos 17 anos de convivência
e isso me inspira a amar e educar os nossos pequenos. Como você também deve
saber, eu agora estou namorando. Conhecendo o seu jeito de quem sempre procurou
a felicidade ao invés da tristeza, sei que você me apoiaria nisso. Foi lindo
também ver o apoio de toda a nossa família, tanto do meu lado quanto do seu,
nesse sentido. Sinto que Deus permitiu que o meu coração se abrisse para um
novo relacionamento e que colocou uma pessoa muito especial como minha
namorada. Obrigado por me fazer ver que isso em nada diminui a linda história
de amor que vivemos.
Assim amor, eu queria aproveitar
essa pequena carta para encerrar o nosso blog. Sinto que o propósito dele foi
cumprido e tenho certeza que boa parte da nossa história ficou contada aqui.
Espero ter honrado em cada post a sua vontade inicial quando o criou e ter
mostrado para todos o quão grande é o nosso Deus e o quão maravilhosa é a obra
que Ele fez nas nossas vidas.
Te amo muito!
Woltony”
Amigos, muito obrigado por todo o
carinho sempre demonstrado e também pela paciência e amor que sempre tiveram
conosco. Como cada comentário antes de ser publicado sempre vem primeiramente
para mim para eu depois autorizar a publicação, caso alguém queira se comunicar
por email, basta escrever um comentário escrevendo o seu email, que eu terei o
maior prazer em responder. Podem ficar tranqüilos que comentários desse tipo
não serão publicados, a fim de preservar a identidade de cada um.
Antes de me despedir, gostaria de
deixar um capítulo de 1 Coríntios para vocês, um dos preferidos da Luciana
1 Co 13
1 Ainda que eu fale as línguas
dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como
o címbalo que retine.
2 Ainda que eu tenha o dom de
profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que eu tenha
tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei.
3 E ainda que eu distribua todos
os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser
queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará.
4 O amor é paciente, é benigno; o
amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece,
5 não se conduz
inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se
ressente do mal;
6 não se alegra com a injustiça,
mas regozija-se com a verdade;
7 tudo sofre, tudo crê, tudo
espera, tudo suporta.
8 O amor jamais acaba; mas,
havendo profecias, desaparecerão; havendo línguas, cessarão; havendo ciência,
passará;
9 porque, em parte, conhecemos e,
em parte, profetizamos.
10 Quando, porém, vier o que é
perfeito, então, o que é em parte será aniquilado.
11 Quando eu era menino, falava
como menino, sentia como menino, pensava como menino; quando cheguei a ser
homem, desisti das coisas próprias de menino.
12 Porque, agora, vemos como em
espelho, obscuramente; então, veremos face a face. Agora, conheço em parte;
então, conhecerei como também sou conhecido.
13 Agora, pois, permanecem a fé,
a esperança e o amor, estes três; porém o maior destes é o amor.
Um grande abraço e que Deus
sempre os abençoe. Fiquem na graça de Deus
Woltony, Luciana (eternamente),
Pedro e Helena