Oi amigos,
Hoje fez um ano que a Luciana partiu. Talvez essa fosse uma das datas mais temidas, até porque uma das coisas que eu sempre ouvi foi que o primeiro ano seria o pior. Viver todas as datas, tudo pela primeira vez seria algo doloroso. E realmente foi, eu não posso negar. Agora só não existe garantia que as próximas vezes serão mais tranqüilas, serão mais leves.
Tenho visto muitas pessoas colocando mensagens nos seus perfis do facebook ou então enviando emails desejando que seja encontrada a cura do câncer. Meu Deus, como eu desejei e ainda desejo a mesma coisa. Um dos requintes de crueldade do câncer é que ele não só leva à morte, mas também provoca um sofrimento muito grande em todos, sofrimento tanto físico quanto emocional. Acho que qualquer coisa que surgir que possa aliviar cada um desses sintomas é de uma grande valia porque quando estamos lutando contra esse inimigo, qualquer coisa que ofereça uma pequena trégua é uma grande vitória.
Assim que acordei fiquei pensando “Meu Deus, como será o dia de hoje?”. Mas também não quis fazer nenhuma previsão...preferi esperar os pensamentos surgirem livremente, sem nenhuma interferência minha. Assim, houve várias lembranças, algumas dolorosas e outras muito gostosas. Lembrei de vários momentos da minha vida com a Luciana, das inúmeras viagens que fizemos, dos momentos com as crianças e do namoro ainda adolescente no Colégio Militar. Lembrei direitinho do seu rosto, do sinalzinho que ela tinha no braço e em como o seu nariz ficava vermelho cada vez que ela mexia nele. Lembrei de como era gostoso dar umas mordidinhas na maça do rosto, especialmente quando ela sorria e como era engraçado vê-la espirrando.
Inevitável também foi evitar algumas lembranças dolorosas. Eu lembro do rostinho dela me olhando, poupando energia e me dizendo com os olhos que me amava. Lembro dela querendo ir para o casamento de uma amiga nossa no dia que ela teve o primeiro sintoma mais forte (dia 05 de Setembro de 2009). Lembro também dela convulsionando nos meus braços enquanto eu a abraçava e de quando ela perdeu os sentidos, também nos meus braços, enquanto o seu corpo sofria os efeitos do choque séptico. Porém uma das lembranças que vieram muito nítidas foi do dia que ela faleceu. Eu não sei se já escrevi aqui, mas no exato momento que a Luciana faleceu eu não estava no hospital. Eu ficava em média 20 a 22 horas no hospital, só saindo para comer alguma coisa e as vezes dormir no hotel. Naquele dia, após muita insistência, eu fui para o hotel comer e dormir um pouco. Isso era por volta de 15:00hs. Quando deu 16:00h eu acordei com uma dor muito forte no peito. Uma angustia imensa me consumia e eu mal conseguia respirar. Lembro muito bem daquela sensação horrível! Na hora eu liguei para o hospital e o meu cunhado só falou: “Wolty, vem para cá que a Luciana começou agora uma nova crise convulsiva”. Eu simplesmente me vesti e saí correndo para o hospital. Cada segundo parecia uma eternidade mas ao chegar no andar do hospital eu já havia entendido tudo. Quando vi as enfermeiras chorando e escutei o choro da Luana sabia que ali a Luciana havia se despedido desse mundo. Ao perguntar para o Juliano que horas ela havia falecido, ele falou: “Wolty, foi na hora que você ligou. Ela começou a crise e você ligou”. Por muito tempo eu me senti culpado por não ter estado lá no momento exato. Não achava justo! Poxa, eu estava em todos os momentos, sabia de tudo, conhecia todos os remédios, discutia com todos os médicos, segurei tantas vezes ela nos braços e juntos havíamos conseguido escapar de vários momentos difíceis. Eu me sentia muito culpado. Eu tinha que sair justamente naquela hora? Algo que me consolou foi ouvir uma vez de uma psicóloga da Abrace que isso era muito mais comum do que eu achava. Em casos onde o paciente e o cuidador estão muito próximos, parece haver um sentimento de pena, por parte do paciente, na hora da partida. Como se ele não quisesse que aquela pessoa que tanto está ao seu lado presenciasse tudo aquilo. Eu acho que foi isso que aconteceu. Acho que foi a Luciana (ou foi Deus, eu não sei) que quis me poupar. Eu não sei o que eu faria...talvez eu tentasse reanimá-la, talvez eu brigasse com os médicos para aplicar alguma droga..eu não sei. Isso havia sido a minha rotina durante 10 meses...agir em toda a situação limite e não desistir nunca. Naquele momento não havia mais nada a fazer. Eu só cheguei, fiquei ao lado, encostei os meus lábios nos seus lábios e o meu rosto naquele rostinho lindo. Ainda sentia o calor e a maciez da pele dela. Uma frase que eu lembrei na hora foi quando Cristo, após sofrer todo o martírio exclamou: “Está consumado!”. Ali também havia chegada a hora e a missão da Luciana havia chegado ao fim. Estava tudo consumado também!
Sinto que ela está bem, apesar de não saber exatamente como é isso. Sinto que de uma forma ou de outra ela agora está curada e a sua morte foi uma passagem para algo muito melhor do que ela estava vivendo. Como diz a oração de São Francisco: “É morrendo que se vive para a vida eterna.”. As crianças também fazem tudo isso ficar bem vivo, porque neles há um pedaço enorme da Luciana...uma parte pulsante do seu amor que habita neles. Lembro da loucura que ela sempre teve por eles, loucura que a gente acabou vendo mais no Pedro, mas que ela também mostrou pela Helena, arriscando a própria vida para que a nossa princesa viesse ao mundo.
Eu acho que poderia ficar aqui horas e horas falando de tudo o que eu pensei e das diversas recordações que tive. Poderia falar sobre todos os momentos vividos e sobre algumas coisas que penso daqui para frente. Mas prefiro deixar isso para os próximos posts. Queria me despedir repetindo uma frase simples que ouvi de uma amiga hoje, ao falar da Luciana e do meu relacionamento com ela. Eu falava das lembranças e ela dizia: “Você sempre vai lembrar da Luciana, de tudo o que vocês viveram e do que você aprendeu com ela. Um verdadeiro amor é eterno”.
Um grande abraço meus amigos, fiquem com Deus e uma ótima semana para todos!
Woltony, Luciana (eternamente), Pedro e Helena